Ensaio sobre a (minha) cegueira

Se eu não me engano, as paredes eram beges. Rosas? Brancas? Enfim, não prestei atenção.

Saí de casa com meu livrinho debaixo do braço, "isso vai demorar pra cacete, vou adiantar trocentas páginas", olhando pro Saramago. Pois bem, "cadê sua carteirinha moça?", droga, droga, droga! Isso que dá sair de casa só com o livro nas mãos, apenas esqueci tudo em casa. Tudo bem, liguei pra Tonha, ela agilizou as informacões, digital na maquininha, caneta no papel, sentei.

"Nossa, a senhora tá sentido esse frio?"

"Tô filha, nas pernas..."

Acho que aquele ar tava ligado no -20. Abre o livro... lê, lê, lê, "caraca, essa parte é muito igual ao filme", lê, lê, lê... Chato, já sei o que vai acontecer. Fecha o Ensaio.

"Mãe, a senhora não tem a impressão de que a sua consulta parece sempre ser mais rápida que a das outras pessoas? Isso sempre acontece comigo..."

O quê que tanto essa mulherada conversa dentro dessa sala gente?

Bebê lindo no colo da moça.

"Taí, outra coisa que não entendo. Que mania é essa das pessoas de falarem gritando no celular em lugares extremamente pequenos e fechados?". Canto de olho pra mamãe, ela entendeu, baixei a cabeça, ri.

EUREKA! Revistas de fofoca.

"Tá gorda"/ "Hunrrum"/ "Nossa, porque ela usou isso?"/ "Ah, sei lá né"/ "Ai que homem lindo"

Porque será que a atendente tanto olha pra esse monitor?

"Camila, ela vai passar na sua frente porque vai ter que tirar os pontos tá?"

"Tá (não)..." O bom é que eu cheguei aqui 2 e 30 e elas as 4.

Revista. Fofoca. Fofoca. Foto. Foto. Publici...


- Clique, se honrares isto que chamas de culhão.

"AAAAAAAAAAAAAAAH, AAAAAAAAAAAAAAAAH, ESTOU CEGA, VEJO TUDO BRANCO, AAAAAAAAH"


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Na boa, falando sério agora. Que diabo de calça é essa?
Na boa, falando sério agora. O quê é o Ensaio do Saramago perto do meu?