sexta-feira, 25 de março de 2011

Um largo sorriso chamado 2 e 75

A nova tarifa do transporte coletivo caiu como uma bomba no orçamento do usuário. Até então ela era técnica, mas no dia 24 de março o Prefeito Amazonino Mendes deu a canetada no contrato e pronto, foi. Porém, há uma condição: ela só entra em vigor assim que a “ frota mais  nova do Brasil” começar a circular na cidade, ou seja, agora o manauara será obrigado a recontar as moedinhas e somar mais 50 centavos na passagem. Antes de eu afirmar que isso “é um absurdo, um roubo”, vamos entender um pouco, do que há por trás dessa “nova era” do transporte coletivo em Manaus.




Desde 2007, a concessionária TransManaus era responsável pelo transporte da cidade, um consórcio formado pelas seguintes empresas: Transamazônica Transporte (Eucatur), São José, Via Verde, Ponta Negra, City Transporte, Líder e Regional Transportes. No final do ano passado, mais especificamente no dia 5 de novembro, a Prefeitura, por meio da SMTU, realizou uma audiência pública para discutir a necessidade de uma nova licitação para o transporte público. Tudo certo. Edital foi publicado, o processo licitatório começou. E a lambança também.

Das mais de 30 empresas que compraram o edital, apenas 9 conseguiram um lugarzinho na concorrência. Foram elas: City Transportes Ltda, Viação São Pedro Ltda, Rondônia Comércio e Extração de Minérios Ltda, Viação Nova Integração Ltda, Via Verde Transportes Coletivos Ltda, Transtol Empresa de Transporte Coletivo Toledo Ltda, Expresso Coroado Ltda, Global GNZ Empreendimentos e Participações Ltda e Auto Ônibus Líder Ltda. 


Passadas as duas fases do processo, foi divulgado o resultado e as contempladas foram: Via Verde Transportes Coletivos LTDA, City Transportes LTDA, Auto Onibus Líder LTDA, Viação São Pedro LTDA, Expresso Coroado LTDA, Rondônia Comércio e Extração de Minério LTDA, Viação Nova Integração LTDA, Transtom Empresa de Transporte Coletivo Toleto LTDA e Global GNZ Empreendimentos e Participações LTD.





Eu não entupi vocês com essas listas de empresas à toa, vamos as evidências que desde sempre foram esfregadas na nossa cara pela SMTU. Não é difícil perceber! Três empresas que faziam parte da concessionária TransManaus, aquela que a SMTU enche a boca para dizer que só colocava ônibus horríveis na cidade de Manaus, estão alí ó: vencedoras e detentoras de uma fatia do nosso transporte miserável.

E a lambança vai além, segundo matéria "Transporte público de Manaus está sob o mesmo domínio", da jornalista Monica Prestes, publicada no dia 21 de março, no Portal A Crítica, coisas piores acontecem nos bastidores. Ela afirma o seguinte:

"...os sócios de outras duas empresas da Transmanaus, a Viação Ponta Negra e a Regional Transportes, também seguem no sistema.


Os irmãos Thiago e Raphael Ferreira, proprietários da Viação Ponta Negra, são os sócios da Viação São Pedro, uma das vencedoras da atual licitação. O outro é Paulo César Barreira, antes Regional Transportes que, agora, responde pela Expresso Coroado.



Os outros três empresários são “figurinhas carimbadas” no transporte da capital. Carmine Furletti é sócio da City Transportes, Paulo Eduardo de Oliveira é um dos proprietários da Via Verde Transportes e César Tadeu Teixeira responde pela Líder Transportes. Todas faziam parte da Transmanaus e devem continuar no sistema porque, segundo a prefeitura, se desvincularam do consórcio."


Agora me digam? De onde devemos tirar esperanças para acreditar em tudo o que o Superintendente e o Prefeito insistem em afirmar? Como repórter, pude acompanhar a abertura do Fórum de Debate e Estudos Técnicos que discutiu a tarifa. Acenderam-se os holofotes, microfones, gravadores, bloquinhos ficaram posicionados e o senhor Marcos Cavalcante falou em alto e bom som:

"Essa situação vai mudar, nossos ônibus são uma vergonha"

Seriam realmente eles, os ônibus, a verdadeira vergonha? Quando questionado sobre o possível valor da tarifa, sem pensar duas vezes, no tapa, soltou: "vai subir".



E subiu. Foram levados em consideração gastos com bilhetagem, despesas administrativas com equipamentos de bilhetagem, plano de saúde para rodoviários e o número de passageiros. "Mas" - lembrou enfático - "essa tarifa só será cobrada assim que os 858 ônibus entrarem em circulação", terminando com um largo sorriso.

Oitocentos e cinquenta e oito ônibus. Novos. Promessas.

Impossível deixar o ceticismo de lado, respirar aliviada, sabendo que, nos terminais, pessoas são humilhadas diariamente por conta do transporte indigno oferecido. Para os empresário e a SMTU, o aumento é aceitável. E para aqueles que realmente dependem do serviço? O impacto na vida dos usuários vai ser grande. Em uma sociedade em que a muitos economizam no almoço para garantir a janta, 50 centavos podem significar um rombo no final do mês. Os universitários já estão indo às ruas, gritando, parando o trânsito, na tentativa de chamar a atenção. Estão certos, certíssimos. É muita coisa de uma vez: fim da domingueira, diminuição da frota do ônibus Integração e 2,75 de passagem.

Quando que a moral e a sociedade vão realmente se prioridades nas escolha de nosso representantes? A falência do sistema está ai, só não enxerga quem não quer.

Ps. 1 Quem entrou aqui no dia em que o texto publicado  deve estar se perguntando "mas ué, na outra versão a tarifa tava 2 e 80?". Estava, mas só hoje - dia 29 - de manhã o superintendente da SMTU, Marcos Cavalcante, anunciou que a tarifa foi fechada em 2 e 75. Ou seja, 5 centavos a menos, AGORA SIM FEZ UMA GRANDE DIFERENÇA, orra!

Ps. 2 Esse texto é a versão original de um artigo que ainda será publicado no blog da minha turma de jornalismo da Ufam, como o Saca tava muito parado, aproveitei que tinha algo e resolvi colocar aqui antes.