terça-feira, 26 de outubro de 2010

Legal mesmo é passar mal antes de dormir

Na verdade foi um leite com farinha láctea muito do seu inocente. Pena que da minha mente deletei os antecedentes. A inocência do lanchinho nortuno era na verdade o fim de um banquete ao qual involuntariamente vinha desfrutando desde às 7 da noite.

Motivo: fui bacana hoje na redação. Dei metade do sanduiche (que minha mãe prepara todos os dias pra mim (arram (eu me orgulho disso (sim, é pão com manteiga(mas tem 3 andares).).).).). A metade que me sobrou, dividi também.

A divisão deixou um vazio, claro. Tanto que cheguei em casa e não contei conversa! Tinha canja. Todos os dias tem. Tinha canja!

Tomei a canja e quando fui pegar o gelo - para a minha água, não para a canja - vi que tinha salsicha no congelador. "Quero cachorro-quente, e eu quero fazer!", questão de honra, meus amigos! Não morei 7 meses sozinha à toa, bato no beito e digo "EU FAÇO O CACHORRO-QUENTE". Ridícula, mas orgulhosa. Fiz.


Molho e muito ketchup. Não tinha queijo ralado, "muito caro minha filha, 5 reais o pacotinho", tudo bem.

Satisfeita, fui ler coisas soltas. Vi tv também.

"Vontade de tomar leite com farinha láctea"

Foi inocente, muito! Mas meu organismo não interpretou assim... Botei tudo pra fora, desculpa, mas vomitei mesmo. E agora assisto Jô.

PLIM.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Carpinejaremos

Sou apaixonada por crônicas. Tanto que sustento esse blog com textos que, um dia-quemsabe-talvez- serão considerados crônicas.

Hoje de manhã me dei folga. Planejei que dormiria até as 10 e depois ficaria na cama até dar a hora de almoçar e partir para o trabalho.

Claro! Óbvio! Como ousas Camila? Planejar as coisas assim, sem consultar as forças superiores! Fui castigada, acordei 8 da manhã, sem um pingo de sono, mas com a cabeça cansada... Tentei, mas a cama não me quis, desisti.

Entrei no google e por ironia do destino internístico, caí no blog de Fabrício Carpinejar.

Jornalista, escritor e professor, Fabrício me encantou. Senti inveja branca, quis escrever da mesma forma que ele, mas como isso é bobeira, impossível, deixo aqui a minha dica de leitura.


E se não for muito abuso, ainda copio/colo um dos meus textos preferidos.

VOCÊ TEM QUE ME LER


É antropológico: mulher odeia ser mandada. São séculos e séculos de opressão. Não dê corda, que já cheira a forca. Vale, inclusive, para a masoquista. Gosta de firmeza, não que alguém diga o que ela deve ou não fazer. Não seja autoritário. O feminismo não é conversa de sapatão.

Que aconselhe, não emplaque uma ordem. Que ofereça um palpite, este é despretensioso como um assobio, é soprar uma melodia e permitir espaço para que ela complete a letra. Finja que está no chuveiro – menor o risco de se afogar. Fale cantado. Quem canta nunca será um ditador.

Posso estar plenamente equivocado, sou tão bonito quanto carro de eletricista, mas mulher aprecia é sentir saudade. Quando o homem desaparece e ela corre para procurá-lo. São coisas do cotidiano. Fui percebendo que a conversa com a minha namorada estragava sempre do mesmo jeito. Havia um método no erro. Uma insistência de minha parte. Uma frase morse que truncava o entendimento. Depois que pronunciava aquilo, nada mais funcionava. Da calmaria, ela migrava para um estado nervoso e impaciente. A transformação de sua atitude me baqueava: O que foi? Será que perdi algo? Retrocedia para caçar uma gafe. Cansei até captar o sinal. O homem ainda tenta melhorar sua imagem com o bombril na antena.

Eu dizia “você tem que” a cada início de diálogo. Impositivo, não agia por mal, era um hábito, buscava convencer com “você tem que”. Parecia que tinha a solução dos problemas do mundo. Persuasão é a sedução para quem não tem paciência. Meu caso; não cuidava da linguagem e depois estranhava o silêncio dela. “Você tem que” é um mandado de segurança. É atestar que ela não desfruta de condições de conduzir a própria vida. Virava um segundo pai, determinando suas atitudes. Fugia da cumplicidade, vinha com os mandamentos e as condicionais de comportamento para que merecesse a mesada.

O homem não botou na cabeça que a fragilidade da mulher não é dependência. Ela não precisa ser protegida, e sim respeitada. Existe uma diferença aguda no tratamento. Depois que ela fica braba não adianta remendar. Emerge um pânico das cavernas, o receio de ser puxada pelos cabelos e pelas palavras. Igual é chamá-la de louca no meio de uma discussão.

Quem não encheu o pulmão para desabafar “você está louca!”, com aquele grito catártico, que serve como elevador para todo o prédio? Eu confesso, mais de uma vez. É novamente afirmar que ela não tem domínio, que nem sabe o que está falando e menosprezar sua opinião. Pode até ser louca, mas não chame de louca, senão ela não vai recuperar o juízo. Na história do pensamento, quantas mulheres foram enviadas para o hospício devido a sua autonomia? Quantas receberam eletrochoque ou sofreram lobotomia em função da independência de estilo? Significa um joanete ancestral, um calo antiguíssimo, não pise.

Joana D’Arc não foi uma bruxa. Assim como vassoura não é para voar, é para varrer qualquer sujeira machista dentro de casa.

O dia em que atravessei a procissão

Acho que já posso afirmar que nunca me considerei católica. Fui batizada, e até os 8 anos não fazia ideia do que "era". Acreditava em Deus, o que já era alguma coisa, mas durante esse período minha religião "vagava" pelo nada e alguma coisa.

Minha mãe sempre foi católica. Meu pai me mostrou o caminho do espiritismo. Achei mais interessante ser filhinha do papai.

Durante essa minha curta-longa vida de 20 anos, fui à igreja algumas vezes... Poucas, para a tristeza de mamãe, mas não por rebeldia - não tenho dom para rebeldia, sou uma frouxa- e sim, por ser um local diferente, que não me dá um "click", sabe?

Ontem fui escalada para trabalhar.

" Trabalhar no feriado, que saco!"

É complicado, mas com o tempo eu fui entendendo que é "normal" e parei de reclamar mentalmente. Pois bem, fui escalada para fazer uma reportagem sobre a procissão de Nossa Senhora Aparecida, que começava às 5 da tarde e iria percorrer algumas ruas do centro.

Saí da redação lembrando das minhas aulas de antropologia.

Etapa 1 - Estranhamento


Uma não-católica com a missão de aprender várias coisas sobre o catolicismo, e mais, processar tudo isso na mente, tentar entender, respeitar, compreender. Estranhamento é a etapa em que a pessoa sai do seu ambiente comum. Porque essas pessoas estão aqui celebrando? Qual a importâcia desta santa? Tudo isso passou pela minha cabeça. Parece bobo, né? Afinal, é a Igreja Católica, tá aí há trocentos anos... Enfim, estranhei-me.

Etapa 2 - Entranhamento


Imergi no desconhecido. Na verdade minha missão era achar duas pessoas que tivessem histórias interessantes, pagamentos de promessas, agradecimentos. Mas a correria e a confusão fez com que eu perdesse minha cinegrafista. Foi como perder uma carteira no meio de um show de rock, fiquei doida, ela é muito baixinha! Perdi o foco nas pessoas e tentei achá-la.

Confesso... Naquele momento me achei uma pessoa desrespeitosa. Enquanto os outros rezavam, cantavam, andavam devagar, fazendo seus agradecimentos baixinhos, eu caminhava meio que correndo, nas pontas dos pés para tentar achar aquela baixinha, com caderninho e celular numa mão, fita e microfone na outra. Desrespeitei. A leseira foi tanta que até trupiquei num carrinho bebê, pode?

Quando consegui achar minha parceira, respirei mais devagar e, finalmente, comecei a enxergar aquelas pessoas, entender porque umas choravam, outras sorriam, vestiam suas crianças de anjinho, estavam descalças, carregavam tijolos.

Eu era a Carrie estranha. As pessoas não entendim a razão da nossa presença.

"Coitada, repórter sofre", "Hahahahaha, olha essa lesa ai! Vai pra casa, menina".

Atravessar aquela multidão com uma câmera beta, microfone e fitas não foi difícil. Complicado mesmo foi fazer aquelas pessoas entenderem que a gente precisava passar, que nós não eramos tão culpadas, que não queriamos estragar aquele momento.

Etapa 3 - Desentranhamento

Nos presenteamos com um baré. Junto com o desentramento veio o cheiro de catinga suor forte, maquiagem borrada, cabelo bagunçado, mas também várias ideias, várias. Queria que as coisas não tivessem sido tão corridas, que minha cinegrafista não tivesse sumido, que eu pudesse ficar mais calma e olhar tudo aquilo de forma mais tranquila...



Melhor foi meu editor ligando no final da noite:

"E aí, tá cansada?"

"Nada, ano que vem me escalem para o Círio."

Isso foi ironia, tá Zé?

ps. Vamos voltar assim? Acanhado, sem pretensões...