segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

"Minha filha, então............................. (X) MORRA! ( ) ME DESCULPE"



Passei o dia ouvindo comentários sobre este vídeo do Amazonino.

"Tá certo! Esse povo é burro mesmo! Votam nele, têm mais é que ouvir isso, ouvir umas verdades!"

"Que absurdo, como que ele diz uma coisa dessas!!!"

"Eeeeesse é o nosso prefeito"

"Quem mandou esse povo ser burro, agora aguenta!"

Tenho 21 anos, nunca passei nenhum tipo de necessidade, NENHUM. Nunca tive nem sequer uma goteira no meu quarto. Nunca tive lama no chão da minha casa. Nunca fiquei com medo por causa da chuva. Nunca me faltaram condições para estudar. Nunca fui obrigada a passar uma hora, uma horinha, em um local que me deixasse exposta  a algum risco iminente.

Nunca votei no Amazonino. Nunca simpatizei com a figura política dele. Nunca achei certo as pessoas votarem nele.

Agora, de que lado estou? Da senhora "burra e paraense", condenada à morte? Ou do político que "rouba, mas faz"?

Estou ao lado das pessoas de respeito, ponto.

E nem me olhe com essa cara de "ah, deixe de clichê, falar de fora é fácil". Falar de fora é fácil, com certeza, mas difícil é parar pra analisar a situação e daí concluir qualquer que seja o pensamento.

A senhora é culpada? Sim, afinal de contas, morar no topo de um barranco, com um solo instável, é assinar um atestado de que a coisa vai ficar crítica em algum momento. Mas tá, saindo da nossa vida real e entrando na hipotética.

Digaaaaaamos que Manaus fosse o lugar perfeito. Onde todos os que aqui chegassem, tivessem onde morar, uma casa garantida, em um local super seguro. Mas mesmo assim uma senhorinha vai lá e constrói um casebre no alto de um barranco... Ela seria burra e culpada?

O Amazonino é culpado? Sim. Pelos trocentos anos de relação com Manaus, ele já deveria saber de trás pra frente, de frente pra trás todas as áreas de risco da cidade. No mínimo, teria implementado uma medida preventiva e tentado tirar esse povo antes que tragédias acontecessem. Ou então, seria radical e proibiria as invasões de uma vez por todas! Mas o que ele fez? Digam? Mamou nas "tetas" desta  e de outras misérias. Mas tá, saindo da nossa vida real e entrando na hipotética.

Digaaaaaamos que Manaus fosse o lugar perfeito. Onde todos  que aqui chegassem, tivessem onde morar, uma casa garantida, em um local super seguro. E o grande herói disso tudo fosse o Prefeito Amazonino Mendes. Mas mesmo assim uma senhorinha vai lá e constrói um casebre no alto de um barranco... O prefeito, preocupado com a situação, vai lá ver a senhora. E no calor da discussão, vira para ela e diz "MORRA!". Ele seria culpado?

Vocês estão entendendo a minha linha de raciocínio? Sem politicagem ou falso moralismo. Para mim, este episódio transcende este tipo de discussão. Toda vez que eu assisto ao vídeo, me sinto envergonhada por ver um líder municipal falar desta forma, na frente de pessoas que perderam tudo, sem um pingo de respeito.

"Aaaaah, mas eles sabiam que isso podiam acontecer, que bla bla bla!"

Sim, mas e daí? Eles sabiam, sim! Mas quem garante que eles tiveram a OPORTUNIDADE CONCRETA de sair de lá? Tudo bem que resolver o problema de invasões na nossa cidade não é algo do dia para a noite, mas em se tratando de Amazonino... Convenhamos que ele não começou ontem, certo?

E o direito básico desta senhora de ser respeitada? Só porque ela, ao contrário de mim, de você, dos seus amigos, não teve chance de estudar, ou de escolher um local decente para viver, isso faz dela uma cidadã indigna ao ponto de ouvir o prefeito mandá-la morrer?

É isso que mais humilha, entristece.

Por muitas vezes, durante as minhas reflexões ao longo do dia, fiquei pensando que esse assunto é, na verdade um looping infinito. Algo "quase" assim:

Não tenho onde morar -> INVASÃO -> Candidato, preciso de uma casa -> Vote em mim! -> E a casa? -> Se acalme, vamos, pegue essa cesta básica -> Prefeito, perdi tudo! -> Saia daqui! - > Mas não tenho para onde ir! -> MORRA! -> Não tenho onde morar -> INVASÃO -> Candidato,...
                                                                                                                                                        
Mas é, e continuará sendo, enquanto muitas mentes não mudarem.

Começando pela nossa...

PS. Eu não fui cobrir esse deslizamento hoje, mas um amigo jornalista foi e escreveu isso aqui ó, vale a pena:


Comunidade Sta. Marta – Invisíveis até o Negão xingá-los

2 comentários:

Nica disse...

Passei o dia pensando nisso também. Um conhecido da senhora falando isso na hora do aperto, tudo bem. Mas nosso prefeito é uma pessoa pública (que estava sendo filmada, e devia saber disso), tinha que se portar de forma mais respeitosa absolutamente. Esse é o tipo de trabalho que deve ser feito com muito cuidado, afinal, no barraco ou não, é a casa desse pessoal. Eles não podem simplesmente sair de lá e ocuparem um casebre abandonado.Enfim, pra não encher mais seu espaço de comentário, concordo com o que você e o Caio disseram.

Fabiano disse...

Também sinto a mesma indignação. Espero realmente que todo marketing feito em cima desse caso resulte em resultados positivos para quem precisa realmente, mesmo que tenham parte da culpa.
Parabéns pelo texto, Camila. Está perfeito!