quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ficção- 2

Ele não parava de clicar.



Parecia que aquele maldito "click" da caneta estava dentro da minha cabeça. Eu olhava em volta, olhava para as outras pessoas, fazia cara de "vocês não estão incomodados?", mas acho que elas não estava encomodadas, a voz da professora estava alta demais também, deve ter sido isso. Mas dentro da minha cabeça parecia que havia um vazio, um vazio e aquele "click" maldito!

Comecei a fazer xingamentos mentais, telepatia negativa, imaginei-me levantando da cadeira, indo até a cadeira dele, pegando aquela caneta e estraçalhando ela em trocentos pedaços, queimá-los, colocar num pão e mandar ele engolir aquilo. Não sei, mas tenho sempre a impressão de que essas pessoas que clicam canetas compulsivamente em público não fazem isso quando estão sós, sei lá, parece que elas querem chamar atenção, ou simplesmente pentelhar a tranquilidade alheia.

O "click" não parava. Por que a criatura não se decide? É tão difícil escolher entre deixar a ponta do lado de fora ou do lado de dentro? Nunca vi pessoas com aquelas canetas de tampa tirando e colocando (a tampa) de forma compulsiva, talvez seja um mal só das pessoas com caneta que faz "click". Será que rola um prazer em fazer isso? Eu geralmente tremelico a perna, mas não sinto nada demais, é involuntário e não incomoda ninguém, quer dizer, deve incomodar, mas pelo menos não faz "click".

"Já sei" - pensei- "vou olhar feio", mas será que o meu olhar feio é realmente tão feio quanto eu imagino que seja, de dar medo? Talvez ele pense "que que essa louca tá me olhando assim sem parar, deve tá me paquerando, vou continuar clicando a minha caneta pra chamar a atenção dela, hehe", não, não vou olhar. Já sei...

"SOCA ESSA CANETA NO C**"

Eu te empresto o meu lápis.

Um comentário:

Rachel Mourão disse...

Você tá numa vibe Holden Caufield. Aduoro.